" Pelo processo de Bergeron / Findeisen, percebo que
gotas sobrefundidas se evaporem e sublimem sobre cristais de gelo que, com o
peso, caem e fundem, originando a precipitação. O que não percebo é o processo
que leva as gotas a anexarem-se aos cristais. Sei que está relacionado com a
pressão de vapor…"
Carlos
Exatamente, este processo está relacionado com o valor atual da
tensão de vapor e com a diferença entre os valores da tensão de saturação
relativamente à fase de água líquida (sobrefundida) e relativamente à fase de gelo:
Tensão de vapor. Tensão de vapor (ou pressão de vapor),
designa simplesmente a pressão parcial do vapor de água, isto é, a parte da
pressão atmosférica originada pela presença do vapor de água. Quando se dá a
evaporação da água, o gás vapor de água daí resultante passa a contribuir
para a pressão atmosférica, designando-se essa contribuição por tensão de vapor
ou por pressão parcial do vapor de água.
Tensão de saturação. Num determinado volume, o valor atual da tensão de
vapor resulta da quantidade de vapor de água aí presente. Por outro lado, a
quantidade máxima de vapor de água que pode existir nesse mesmo volume depende
da sua temperatura (quanto mais elevada for a temperatura, mais elevada será a
quantidade de vapor de água admissível nesse volume). Isto é, para um
determinado volume de ar, a uma determinada temperatura, existe um valor atual
para a tensão de vapor (resultante da quantidade de vapor de água efetivamente existente) e um valor máximo para essa mesma tensão, valor esse que depende da temperatura. Este valor é designado por tensão de saturação.
Se a tensão atual ultrapassar a tensão de saturação, parte do vapor de água
encontrar-se-á em excesso, podendo vir a condensar (o processo de mudança de
fase depende igualmente de outros fatores, como da existência de núcleos de
condensação e de núcleos de congelação).
Humidade relativa. A humidade relativa é aproximadamente igual ao quociente
entre a tensão atual de vapor e a tensão de saturação para a temperatura
observada tendo um valor máximo de 100%.
Diferença entre as tensões de saturação relativamente ao gelo e à
água líquida. A temperatura inferior
a 0°C, a tensão de saturação do vapor relativamente à fase líquida é superior à
tensão de saturação que se verifica relativamente à fase sólida; isto é, na
presença de uma superfície de água líquida e de uma
superfície de gelo no mesmo espaço, o vapor de água depositar-se-á, preferencialmente, sobre a
superfície de gelo (a tensão de saturação relativamente ao gelo é mais baixa,
atingindo-se mais cedo).
Núcleos de congelação e núcleos de condensação. Contudo, para que se dê inicio
à congelação da água líquida ou à condensação do vapor de água, é necessária a
presença de núcleos de congelação ou de núcleos de condensação, respetivamente.
Estes núcleos constituem estruturas físicas de suporte que possibilitam o processo
de agregação das moléculas na nova fase (por exemplo: partículas de poeira,
partículas de sal, …). Na ausência destes núcleos, a tensão atual de
vapor poderá ser consideravelmente superior à tensão de saturação sem que daí
ocorra imediatamente condensação ou congelação. A introdução e difusão deste
tipo de núcleos numa nuvem está na base dos processos de inseminação artificial
de nuvens, com vista à estimulação da precipitação.
Água sobrefundida (ou sobrearrefecida). A temperatura entre os
0°C e os -40°C negativos, parte da nuvem é constituída por
gotículas de água sobrefundida, em suspensão (gotículas na fase líquida,
a temperatura negativa). A presença desta fase líquida num determinado volume,
a temperatura negativa, indica que a tensão de saturação do vapor relativamente
à fase líquida já terá sido atingida. Indica também que a tensão de saturação
do vapor relativamente à fase sólida já terá sido igualmente
ultrapassada, visto ter um valor inferior. A razão mais plausível para a água
não se encontrar já toda congelada prende-se com a ausência de núcleos de
congelação.
Crescimento dos cristais de gelo. Se entretanto, algumas dessas gotas sobrefundidas
congelarem, ou se uma ou outra gota já congelada cair do topo da nuvem para
dentro desta região, uma parte do vapor de água existente depositar-se-á de
imediato sobre estes novos cristais de gelo, funcionando os mesmos como núcleos
de congelação. A diminuição da quantidade de vapor disponível terá como
consequência a diminuição da tensão atual do vapor, ficando abaixo da
tensão de saturação relativamente às gotículas na fase líquida (que tem um valor mais elevado). Ainda
assim, a tensão atual do vapor manter-se-á acima da tensão de saturação
relativamente à fase sólida já que esta apresenta um valor inferior. Isto é, o
afastamento da saturação relativamente à fase líquida levará a que novas gotas
da fase líquida se evaporem, disponibilizando mais vapor de água; o qual por
sua vez, sublimará sobre os cristais de gelo então formados, já que
relativamente a estes, o vapor de água ainda se encontra saturado. À medida que
o volume destes cristais de gelo aumenta, mais superfície sólida é
disponibilizada, acelerando o processo de sublimação. Estes cristais
constituirão neve em grãos, flocos
ou cristais, de acordo com a velocidade
a que ocorrer a sublimação; esta está relacionada com a temperatura a que vier
a ter lugar. O aumento de volume dos cristais de gelo (neve) deverá
continuar até que, devido ao excesso de peso, se dará início à precipitação dos
cristais mais pesados sobre a forma de precipitação do tipo neve. Caso ocorram
temperaturas positivas durante o trajeto descendente, os cristais de gelo
fundirão dando origem à precipitação do tipo
chuva. Isto significa que a precipitação do tipo chuva resulta de neve que fundiu a altitudes mais elevadas.
Processo de formação da precipitação segundo Bergeron / Findeisen. A temperatura abaixo
de 0°C e acima de -40°C, as gotículas de água líquida sobrefundida
constituintes das nuvens tendem a evaporar, sublimando em seguida sobre os
cristais de gelo existentes. Este processo só ocorre em nuvens que contenham
simultaneamente gotículas de água sobrefundida e alguns cristais de gelo. O
processo só tem início quando parte da nuvem atinge temperaturas negativas e
termina se todas as gotículas se encontrarem na fase sólida. Razão pela qual, a precipitação não ocorre nas nuvens altas (demasiado frias,
apenas constituídas por cristais de gelo), ocorre na maior parte das nuvens médias (embora a precipitação
possa não atingir o solo se vier a evaporar durante o trajeto descendente; ex.: virga – precipitação que se evapora no trajeto descendente não atingindo o
solo) e ocorre nas nuvens
baixas, apenas após ter sido atingido um determinado desenvolvimento vertical (quando o topo da
nuvem atinge temperaturas suficientemente baixas para se gerarem os primeiros
cristais de gelo). Este é o designado modelo de formação da precipitação
segundo Bergeron – Findeisen ou das nuvens frias. Existem outros modelos de
formação da precipitação a ser desenvolvidos noutro post.
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